Sempre vivemos o ciclo do meio por três e meio. Terminadas as eleições e empossados os eleitos, vivemos o três e meio.

É aquele período em que os eleitos, mesmo não desejando, desfilam com a frase “mantenham distancia” – e os eleitores obedecem. No período meio, os políticos correm atrás dos eleitores; no outro período, correm dos eleitores.É daí que vem a critica dos “candidatos Copa do Mundo”.

Mas realmente não tem e não deve ser assim. Façamos o breve exercício da pergunta ao eleitor: em quem votou nas penúltimas eleições? Se lembrar, responda rápido: falou com seu candidato – ou ele com você – quantas vezes nesse período?

O eleito não sabe quem são seus eleitores – Agora, façamos o exercício de perguntar ao eleito: você tem algum registro de quem possa ter lhe confiado voto na eleição passada?

Aqui, a resposta não será “não lembro”, mas certamente “não sei”. Ora, se ambos não se ocupam por se comunicar, a partir de sua simples identificação, como poderão estar próximos durante o mandato? Ou antes, ou depois?

Ao eleitor, sugiro simplesmente que se apresente. Pessoalmente, por telefone, e-mail, telegrama, canais sociais, carta ou qualquer meio que conheça. Ponha-se frente ao político e lhe diga “eu votei em você, estou lhe passando meu endereço porque quero acompanhar seu trabalho e gostaria de receber informações a respeito – ou – eu não votei em você, vou acompanhar o seu mandato e quero receber informações. Você vai me enviar?”.

Acredito que o eleito saberá aproveitar a oportunidade que o eleitor/cidadão estará lhe dando para conhecê-lo e se comunicar.

Ai, o ciclo do meio por três e meio estará rompido. E o político poderá não ser mais, para o eleitor, o “candidato Copa do Mundo”.

Ao político eleito, a recomendação também é muito simples: identifique pelo menos os cidadãos que atende, aqueles com quem fala, a quem atende, estruture o marketing político e o de relacionamento do seu mandato e “fale” sempre com eles.

Se todos os mercados buscam conseguir a fidelização dos seus clientes, sabendo que estes somente voltarão a “compra ou contratar” se tiverem seus anseios captados e satisfeitos, investem recursos financeiros e de pessoal nesse objetivo, cientes de que a relação custo x beneficio lhes favorece quando fazem isso sistematicamente, porque a maioria dos políticos não percorre esse caminho?

Os cidadãos querem mais – Mesmo com esse esforço, apenas e tudo isso não basta. Na escala do relacionamento, é preciso superar a expectativa e surpreender o cliente/cidadão/eleitor, o que somente será alcançado se lhe oferecer mais do que ele espera ou se lhe oferecer o que ele não espera.

Alguns políticos, ainda que sem conhecerem esses conceitos, os praticam, mesmo que desordenadamente. Já é bastante, porem nos tempos atuais precisa mais, porque os cidadãos querem interação, isto e, estarem em contato com os “mandatários”.

Acontece que terão de se relacionar ordenadamente com seus “clientes”. Terão de surpreende-los – ou poderão não receber seus votos na próxima vez.

O fracasso da nova eleição poderá ocorrer se a comunicação se der apenas pela mídia de massa (Tv, rádio, jornais, outdoors). Nem recados nem notícias destacadas superarão a expectativa de interação do cidadão eleitor.

Felizmente, hoje os canais sociais já cumprem parte dessa função. Mas realmente quais os gestores públicos, no Executivo ou Legislativo, conhecem ou têm pessoal habilitado a operarem no “mundo digital”, com variação de ferramentas e inovações contínuas?

A saber, alguns canais digitais para comunicação: Instagram, Facebook, Linkedin, Youtube, Hangouts, Periscope, Pinterest, Whatsapp, Snapchat, Twitter, automatização de e-mails, automatização de postagens, Cola.b, Ouvidoria, App do Cidadão … a lista continuará crescendo.

Ou seja, não bastará apenas utilizar automaticamente essas mídias Será preciso realmente estarem próximos, será preciso que o cidadão sinta a “presença/atuação/atenção do político”. O político terá de adotar novo comportamento, utilizar métodos que usa pouco ou ainda não usou. Antes de falar, terá de ouvir. Ouvindo, terá de dizer que ouviu. E daí, trocar informações permanentemente.

Esse é o conceito básico do marketing de relacionamento, cuja plataforma são os bancos de dados de eleitores/cidadãos, que podem propiciar diálogo direto, individual, com cada cidadão. É a pratica da escada de intimização, em que, degrau a degrau, se estabelecem “sentimentos de atenção recíproca, de credibilidade e de liberdade de opinião”.

Votos outra vez – De pessoa desconhecida pelo eleitor (apesar de lhe ter confiado seu voto), o político se tornará pessoa conhecida e reconhecida por ele. Se o desempenho lhe satisfizer e o surpreender, poderá receber novamente seu voto.

Os candidatos reeleitos, particularmente, devem dar atenção ainda maior à fidelização, porque é natural o cansaço da repetição de mandatos, como é natural o despertar pela novidade – e as surpresas são as mães das novidades, ainda mais na lide política.

Porque entendo que o recado das urnas nas últimas eleições – renovação recorde nas Câmaras e Prefeituras – reforça indicação para as próximas: os cidadãos disseram aos políticos (eleitos e não eleitos) que façam de outro jeito, nos queremos falar com vocês, nos queremos saber o que vocês estão fazendo, nós queremos participar, queremos ver vocês, queremos estar próximos… E o caso de se recomendar, a quem ainda não tem, que iniciem seus planos de marketing político imediatamente, para não terem de praticar apenas o marketing eleitoral no próximo pleito – que custa muito caro e carrega muito mais riscos.

Assim como as empresas criam seus Clubes de Consumidores, é passada a hora dos bons políticos criarem seus Clubes de Eleitores/Cidadãos. Ou ficarem assim, longe deles – que na próxima também vão ficar longe dos “desatentos”.

Acontece, finalmente, que os políticos terão de se relacionar ordenadamente com seus “clientes”.  Terão de surpreende-los – ou poderão não receber seus votos na próxima vez.

Ou não é isso que vimos assistindo desde as manifestações de 2013? E com as pretensões do Congresso para 2017, discutindo reformas e o foro privilegiado?

Os políticos continuam em xeque-mate. Ou seria touché?

By Nelson Eduardo

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